Eduardo Campos

Tristeza

Ontem, como o resto do Brasil, fiquei surpreso com a notícia da queda de um avião em Santos e a possibilidade que Eduardo estivesse nele.

Acabara de vê-lo no jornal nacional na noite anterior e suas idéias, sua determinação e sua vitalidade me impressionaram. Era, como muitos, um homem que tinha um projeto para o país. Mas, como poucos, era um homem que, independentemente da enorme dificuldade de alcançar seu sonho, definitivamente tirava sua energia da perspectiva da sociedade que almejava ver construída. Gostei do que vi. Estava ali um político honesto, um homem leal, sem hipocrisias, de peito aberto, sem usar de meias verdades, defendendo suas idéias independentemente de seu impacto eleitoral.

Quando veio a confirmação da tragédia, fiquei atônito e consternado.

Como era paradoxal!

Pensar que a maioria das pessoas não vive propriamente, mas vegeta dia após dia, sem reflexão, perdida nas dificuldades de suas existências, sem se dar conta do fato de que boa parte de suas dificuldades nascem justamente do fato de aceitarem passivamente o destino que lhes foi imposto por outrem.

E justo o Eduardo, que no dia anterior estava tão vivo, tomando seu destino nas mãos, perseguindo corajosamente seu sonho, contagiando firmemente as pessoas com sua visão, no dia seguinte estar violentamente reduzido a pó.

Me vi então acometido de uma tristeza profunda.

A sensação de perda era enorme.

Embora não o conhecesse pessoalmente, compartinho muitas das idéias e atitudes que o vi defender tão corajosamente.

Para mim, ele representava a esperança de um país melhor, resultado de uma nova ordem, construída através de uma nova forma de encarar a política.

Ele representava uma promessa de socialismo diferente.

Um socialismo democrático, sem sangue, sem guerra civil, construído a partir da radicalização das liberdades e não do seu sacrifício.

Um socialismo sem imposição da vontade de uma vanguarda sobre a maioria, sem ditadura do proletariado, sem ditadura nenhuma, mas solidamente fundamentado sobre o esclarecimento e a conquista das mentes.

Construído através do respeito à liberdade e à opinião das pessoas, o respeito ao que deve ser coletivo, por ser patrimônio de todos, mas com respeito ao que deve ser privado, como as casas, os carros, os negócios, etc., que as pessoas tanto prezam.

Que rejeita a corrupção como um câncer a ser extirpado do Estado. Que vê nela a principal ferramenta de distorção do processo democrático que leva ao favorecimento de grupos em detrimento da maioria.

Ele representava a saúde pública como a da Inglaterra, a educação pública como a da França, a liberdade de expressão como a dos EUA, a liberdade de iniciativa, a liberdade e tolerância religiosa como as do ocidente, o respeito à natureza como o da Alemanha.

Representava o papel do Estado como redistribuidor da renda e redutor das desigualdades. Um Estado que respeita tanto as pessoas que não admite que ninguém passe fome em seu território. Que recusa a falta de saneamento básico, os subsalários, simples mais-valia que explora o trabalho e extrai riqueza da exploração das pessoas.

Mas, ao mesmo tempo, um Estado que valoriza a riqueza individual quando advinda do próprio trabalho, da inovação e do aperfeiçoamento dos processos que melhorem a vida das pessoas.

Mas um Estado que pune rigorosamente a destruição ambiental e desincentiva as atividades ambientalmente não sustentáveis. Um Estado que rejeita a extração de riqueza através da mera produção de externalidades negativas a serem pagas pela coletividade, por entende-la como apenas mais uma sofisticada forma de mais-valia.

Um Estado que respeita as diferenças, mas que estabelece igualdade de oportunidade.

A sensação de perda advém da percepção que o general caiu e a bandeira está no chão.

Mas a guerra ainda não acabou. Nem mesmo essa batalha terminou.

O próprio valor da ideia fará com que alguém levante a bandeira novamente.

E a morte do Eduardo Campos não terá sido em vão.

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