Diário de Uma Greve Justa

Numa greve anterior, se não me engano, na de 2012, o pessoal de Marília estava muito motivado.

Na época eu disse ao João, diretor do SINTRAJUD na região: vai um pouco mais devagar porque a mobilização não está tão boa no resto do país. Não podemos criar ilusões nas pessoas.

Agora, o cenário é completamente diferente.

O executivo está fraco, o legislativo, o judiciário e a sociedade reconhecem o mérito da nossa luta.

Nosso projeto está em vias de passar pela última votação no dia 30. Contra a vontade do governo, que não quer nos dar nada, quer usar nosso sofrimento para cobrir o rombo que ele causou no erário.

Mas o jogo ainda não acabou. Tanto que eles conseguiram adiar a votação do projeto do dia 10 para o dia 30. Querem nos desmobilizar pelo cansaço.

Só que as pessoas não são bobas e percebem isso. Essa não é uma greve da cúpula do sindicato. É um movimento organizado pela Base.

Para demonstrar isso, vou contar uma estória que aconteceu na última assembléia estadual na Av. Paulista.

Muitos de nós já havíamos feito algumas passagens nos Foruns e compreendemos que as pessoas estavam cansadas das últimas greves, as quais obtiveram poucas conquistas à custa de muito esforço.
Mas percebiam claramente 2 coisas: As condições para a vitória estão dadas. Mas ainda faltava mobilização.

Pedimos a todos que fossem à assembléia para dividir conosco a responsabilidade da seríssima decisão a ser tomada: abaixar a cabeça e aceitar o que quer o governo oferecesse ou levantar os olhos e com altivez cobrar a dignidade das nossas carreiras com a consequente recuperação da remuneração aos patamares de 2006.

Quando chegamos lá para a assembléia estadual, havia umas 100 pessoas.

Fomos para a reunião aberta de comando que aconteceu no auditório do Fórum Pedro Lessa.

Depois de muito debate e reflexão, nós decidimos que só havia forças para propor uma paralisação de 48 horas, pois havia mobilização limitada na JT, quase nenhuma na JF, na JE e JM.
Uma greve sustentada só por uns gatos pingados da JT não valia à pena tentar.

Quando saímos, desmotivados e tristes, prontos para aceitar a situação, fomos imediatamente surpreendidos: respondendo ao chamado, a mobilização começara como um rastilho de pólvora que se acende. Mais de 400 pessoas nos aguardavam ansiosas!

Na minha visão, um pouco sentimental, é verdade, mas não por isso menos válida, as pessoas começaram a levantar os olhos e encontrar nos olhares dos colegas, a fraternidade daqueles que partilham a mesma sina.

Era a própria Esperança brilhando ali, estampada no rosto do outro. E o Prazer de tomar o próprio destino nas mãos. E a percepção que algo precisa ser feito. E a compreensão que lutas internas são menores e nos levariam mutuamente à derrota. E que se perdermos essa oportunidade, amargaremos pelo menos mais 3 anos de penúria num ambiente cada dia mais adverso. E por fim, que essa greve deve ser Forte e Curta.

Diante dessa realidade que, repito, nos pegou de surpresa, fomos levados pela Base da Categoria a mudar nossa posição e, reconhecendo que a mobilização ainda estava fraca na Justiça Federal e na Eleitoral, chamar a greve e reavaliar o grau de adesão na próxima assembléia.

E cada grevista se comprometendo a trazer mais 2 para o movimento.

De lá para cá, as notícias são alvissareiras! As pessoas querem essa greve. Muita gente nos tem chamado para visitar os seus fóruns para incentivar os que ainda receiam. A decisão de entrar em greve é sempre difícil e precisamos do apoio uns dos outros para ter a coragem de fazê-la acontecer. E de mantê-la.

Vários comandos locais de greve e grupos de whatsapp e facebook se tem formado sozinhos desde então. As pessoas se organizam para levar a esperança a quem ainda não a tem, para mobilizar presencialmente e para manter motivados aqueles que vacilam e, cedendo ao desespero, tendem a se entregar.

As notícias que temos são que a greve cresce a olhos vistos.

Se fosse hoje, minha conversa com o João seria diferente: Vai com tudo, que a hora é agora!

Na próxima 4ª feira na assembléia, saberemos qual lobo vencerá essa batalha: o da Esperança ou  o do Desespero. Eu estarei lá, alimentando o 1ª.

E você?

Ah, e não se esqueça de trazer os 2 amigos que combinamos.

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