Renúncia à Diretoria do Sintrajud
Eu vou ser pai outra vez!
À felicidade desse momento se mistura um certo grau de ansiedade diante do difícil momento que nosso país está vivendo. Será que conseguirei dar a minhas filhas qualidade de vida suficiente para explorarem todas as suas potencialidades e conquistarem seus lugares ao sol? Isso só o futuro responderá. Mas exigirá de mim mais dedicação, tarefa que eu aceito alegremente.
Para isso, será necessário repensar minhas prioridades.
Uma delas é a dedicação à tarefa sindical.
O filósofo John Rawls costumava dizer que para construir justiça social é preciso que imaginemos as posições de cada indivíduo sem saber qual o papel que nos caberá nessa organização. Ele chamava isso de "véu da ignorância". Você teria que pensar cada lugar na estrutura social como se fosse ocupá-lo. Só assim se atingiria a isenção necessária para, ao final do processo, produzir-se a justiça social.
É curioso constatar como pensar o futuro dos filhos nos coloca exatamente nessa posição.
Acredito que o sindicato, assim como a política são espaços fundamentais para a construção de forças capazes de atuar na organização da sociedade de forma a reduzir a desigualdade de oportunidades. Um pouco por esse motivo aceitei o pesado e gratuito encargo de me tornar diretor do SINTRAJUD. Vejo como cada um de meus colegas diretores se esforçam, às vezes ao limite da exaustão, para realizar essa tarefa, muitas vezes ingrata.
Sinto um grande desconforto em, devido às demandas familiares, não poder oferecer esse mesmo grau de desprendimento e auto doação.
Mas também observo um certo desconforto por não me sentir com vontade de ir às assembleias e demais reuniões do meu sindicato. Começo a me perguntar de onde vem essa sensação.
Analisando o que ocorre nesses eventos, percebo que passamos muito pouco tempo pensando no que fazer como categoria e muito mais ouvindo a palestras de avaliação de conjuntura pela ótica marxista com as quais não concordo e sem qualquer contraponto que enriqueça o debate. Quem me conhece sabe que não me importo em participar de discussões ideológicas, muito ao contrário, mas não me sinto à vontade quando só uma voz é ouvida. Parece que estou assistindo a um culto religioso, de uma fé que não professo. Acredito que esse formato monotônico, ao invés de ampliar a consciência política, constrói apenas doutrinação e intolerância, tornando rígidas as posições e incapacitando a construção de forças políticas coesas. Por ele, sempre deve haver uma vanguarda "esclarecida" que conduzirá a massa ao seu destino. Não creio nessa via.
Para mim, o sindicato deve ser a expressão real da pluralidade de idéias existente na categoria. Só assim se construirá a legitimidade que vai amalgamar a força social capaz de conquistar resultados efetivos. Não quero com isso dizer que o SINTRAJUD seja manipulado ou tolhedor: esse é o sindicato mais plural que conheço. Mas isso, curiosamente, não tem me feito sentir representado pelo resultado que vejo. Um verdadeiro paradoxo, posto que faço parte da diretoria executiva!
Também não tenho conseguido fazer avançar a pauta a que me propus, como implementação de assembleias regionais eletrônicas, com voto digital, reabertura do plano de saúde, etc.
Além disso, tenho me sentido muito desconfortável com a ajuda financeira que nossa agremiação tem dado a alguns movimentos sociais que, embora legítimos e necessários, têm engrossado as manifestações de apoio ao governo. Não desmereço esses movimentos, mas considero um tiro no pé fortalecer quem nos condenou a 10 anos de congelamento salarial e nos brindou com o veto ao reajuste arduamente negociado no ano passado. O governo, qualquer que seja, é nosso patrão e, como tal, quanto mais fraco, melhor.
Falando nisso, mesmo sopesando toda a boa intenção em melhorá-lo, acredito que a atual situação da economia não nos permite tergiversar e demorar em aceitar o PL de reajuste como ele se encontra. Como já pontuei desde a manutenção do veto, demorar muito nisso vai nos levar a passar mais um ano sem reajuste, o que pode ser particularmente danoso nesse ano em que a inflação vai chegar novamente aos 2 dígitos.
Por último, recentemente, tem crescido muito em nossa categoria uma ideia de busca do nível superior para os técnicos. Pessoalmente, não acredito nisso. Por motivos que não cabe desenvolver aqui, vejo ali mais riscos que vantagens. Mesmo assim, não posso negar que essa corrente conquistou legitimidade em nossa categoria e merece ser representada na diretoria.
Sopesando todos esses argumentos, não há outra decisão a tomar senão minha renúncia à posição na diretoria do SINTRAJUD.
Sugiro que, se possível, minha vaga seja ocupada por alguém do movimento que busca o Nível Superior para os Técnicos, como forma de refletir a legitimidade alcançada.
Devoto-me doravante ao desafio de ser um bom pai, reservando algum espaço para participar nas assembleias, greves e demais ações coletivas, ombro a ombro com meus pares.
Obrigado pela confiança depositada em mim por vocês, com quem compartilho o destino de Servidor do Poder Judiciário.
À felicidade desse momento se mistura um certo grau de ansiedade diante do difícil momento que nosso país está vivendo. Será que conseguirei dar a minhas filhas qualidade de vida suficiente para explorarem todas as suas potencialidades e conquistarem seus lugares ao sol? Isso só o futuro responderá. Mas exigirá de mim mais dedicação, tarefa que eu aceito alegremente.
Para isso, será necessário repensar minhas prioridades.
Uma delas é a dedicação à tarefa sindical.
O filósofo John Rawls costumava dizer que para construir justiça social é preciso que imaginemos as posições de cada indivíduo sem saber qual o papel que nos caberá nessa organização. Ele chamava isso de "véu da ignorância". Você teria que pensar cada lugar na estrutura social como se fosse ocupá-lo. Só assim se atingiria a isenção necessária para, ao final do processo, produzir-se a justiça social.
É curioso constatar como pensar o futuro dos filhos nos coloca exatamente nessa posição.
Acredito que o sindicato, assim como a política são espaços fundamentais para a construção de forças capazes de atuar na organização da sociedade de forma a reduzir a desigualdade de oportunidades. Um pouco por esse motivo aceitei o pesado e gratuito encargo de me tornar diretor do SINTRAJUD. Vejo como cada um de meus colegas diretores se esforçam, às vezes ao limite da exaustão, para realizar essa tarefa, muitas vezes ingrata.
Sinto um grande desconforto em, devido às demandas familiares, não poder oferecer esse mesmo grau de desprendimento e auto doação.
Mas também observo um certo desconforto por não me sentir com vontade de ir às assembleias e demais reuniões do meu sindicato. Começo a me perguntar de onde vem essa sensação.
Analisando o que ocorre nesses eventos, percebo que passamos muito pouco tempo pensando no que fazer como categoria e muito mais ouvindo a palestras de avaliação de conjuntura pela ótica marxista com as quais não concordo e sem qualquer contraponto que enriqueça o debate. Quem me conhece sabe que não me importo em participar de discussões ideológicas, muito ao contrário, mas não me sinto à vontade quando só uma voz é ouvida. Parece que estou assistindo a um culto religioso, de uma fé que não professo. Acredito que esse formato monotônico, ao invés de ampliar a consciência política, constrói apenas doutrinação e intolerância, tornando rígidas as posições e incapacitando a construção de forças políticas coesas. Por ele, sempre deve haver uma vanguarda "esclarecida" que conduzirá a massa ao seu destino. Não creio nessa via.
Para mim, o sindicato deve ser a expressão real da pluralidade de idéias existente na categoria. Só assim se construirá a legitimidade que vai amalgamar a força social capaz de conquistar resultados efetivos. Não quero com isso dizer que o SINTRAJUD seja manipulado ou tolhedor: esse é o sindicato mais plural que conheço. Mas isso, curiosamente, não tem me feito sentir representado pelo resultado que vejo. Um verdadeiro paradoxo, posto que faço parte da diretoria executiva!
Também não tenho conseguido fazer avançar a pauta a que me propus, como implementação de assembleias regionais eletrônicas, com voto digital, reabertura do plano de saúde, etc.
Além disso, tenho me sentido muito desconfortável com a ajuda financeira que nossa agremiação tem dado a alguns movimentos sociais que, embora legítimos e necessários, têm engrossado as manifestações de apoio ao governo. Não desmereço esses movimentos, mas considero um tiro no pé fortalecer quem nos condenou a 10 anos de congelamento salarial e nos brindou com o veto ao reajuste arduamente negociado no ano passado. O governo, qualquer que seja, é nosso patrão e, como tal, quanto mais fraco, melhor.
Falando nisso, mesmo sopesando toda a boa intenção em melhorá-lo, acredito que a atual situação da economia não nos permite tergiversar e demorar em aceitar o PL de reajuste como ele se encontra. Como já pontuei desde a manutenção do veto, demorar muito nisso vai nos levar a passar mais um ano sem reajuste, o que pode ser particularmente danoso nesse ano em que a inflação vai chegar novamente aos 2 dígitos.
Por último, recentemente, tem crescido muito em nossa categoria uma ideia de busca do nível superior para os técnicos. Pessoalmente, não acredito nisso. Por motivos que não cabe desenvolver aqui, vejo ali mais riscos que vantagens. Mesmo assim, não posso negar que essa corrente conquistou legitimidade em nossa categoria e merece ser representada na diretoria.
Sopesando todos esses argumentos, não há outra decisão a tomar senão minha renúncia à posição na diretoria do SINTRAJUD.
Sugiro que, se possível, minha vaga seja ocupada por alguém do movimento que busca o Nível Superior para os Técnicos, como forma de refletir a legitimidade alcançada.
Devoto-me doravante ao desafio de ser um bom pai, reservando algum espaço para participar nas assembleias, greves e demais ações coletivas, ombro a ombro com meus pares.
Obrigado pela confiança depositada em mim por vocês, com quem compartilho o destino de Servidor do Poder Judiciário.